Notícias de Lugar Nenhum (Made in China) - por Mariano Klautau Filho

 
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Ao apropriar-se de autorretratos com câmera digital - realizados na Praça da Paz Celestial e na Cidade Proibida em Pequim - em circulação na internet, o artista seleciona um conjunto deles e o envia sob encomenda para um ateliê chinês cuja equipe de pintores profissionais reproduz manualmente a óleo com exatidão fotográfica cada imagem apropriada. Treinados para a reprodução fiel em larga escala de obras de arte, esses pintores imprimem uma marca de fábrica no processo do artista que indicia paradoxos e contradições culturais.

Entre o aparelho de registro documental e o gesto manual da pintura sob o comando da produção de massa; entre a fotografia turística desprovida de expressão autoral e a pintura que a simula fielmente; entre a suposta democracia capitalista das imagens e a suposta valorização comunista do talento e habilidade manual particular, o artista constrói um painel constituído por quarenta pinturas. Essas pequenas telas são o resultado de uma cadeia sem início nem fim cuja dinâmica se faz no jogo múltiplo de uma autoria sem nome ou rosto constituída na cultura das imagens.

Ao propor a reprodução pictórica das fotografias dos autorretratos difundidos na rede, o artista também retoma um fenômeno do século XIX determinante no embate entre cultura fotográfica e tradição pictórica: o abandono do ofício de pintor miniaturista em favor da nova profissão de fotógrafo de retratos. Dessa forma, o artista remonta um percurso revelador do processo de feitura, circulação e consumo da imagem na cultura global e na arte contemporânea em que a noção de fotografia autoral se desfaz.

Texto sobre a obra “Notícias de Lugar Nenhum (Made in China)”,  para a exposição “O Artista como Autor/O Artista como Editor”, curadoria de Tadeu Chiarelli, realizada no MAC USP, em junho de 2013.